11 fev 2021 - Notícias
RIO – As vendas no varejo tiveram uma queda forte de 6,1% em dezembro do ano passado, na comparação com novembro, frustrando expectativas.
Embora no acumulado de 2020 o comércio tenham registrado alta de 1,2% num ano marcado pela pandemia, o setor está longe de se recuperar da crise. O resultado divulgado ontem pelo IBGE reflete a montanha-russa vivida pelo setor no ano passado.
Este ano, a queda livre continua. Indicadores de janeiro apontam que o consumo continua em baixa. Para analistas, o setor só deve reagir a partir do segundo semestre, com o avanço da vacina e possíveis novas medidas do governo para enfrentar a crise.
No curto prazo, melhora só com a retomada do auxílio.
Um dos agravantes da situação desfavorável no início do ano é que os comerciantes têm que começar a pagar dívidas feitas no ano passado sem ainda ter recuperado caixa. Com a segunda onda da pandemia, muito menos gente circula no comércio.
Um levantamento realizado pelo Sebrae, em novembro, mostra que pelo menos 4% dos pequenos negócios não aguentaram e fecharam as portas no país em janeiro. No Rio, esse número sobe para 5%.
Sérgio Obeid, dono da loja de roupas Obeland, no Centro do Rio, teve de adotar diversas medidas ao longo de 2020 para conseguir manter seu negócio, como a redução de 70% da jornada de trabalho e salário de funcionários permitida pela medida provisória (MP) 936, que expirou em dezembro.
Agora, sem o alívio na folha de pagamentos, ele sente a queda no seu faturamento. Para o comerciante, a continuação de programas assistenciais do governo ajudaria estebelecimentos como o dele.
O gerente da pesquisa do IBGE, Cristiano Santos, afirmou que o resultado do varejo em dezembro é um reposicionamento natural de desempenho do setor, já que o patamar estava muito alto com a recuperação das vendas em outubro e novembro.
No momento em que houve alguma flexibilização das medidas de isolamento, o comércio chegou a ultrapassar o patamar pré-pandemia, de fevereiro. Agora, mergulha de volta na crise.
Os dados do IBGE para o varejo em janeiro só serão divulgados no mês que vem, mas, bancos e consultorias já trabalham com prévias bem negativas.
O Índice Getnet de Vendas do Comércio Varejista Brasileiro (iGet), desenvolvido pelo Santander em parceria com a Getnet, empresa de meios de pagamentos controlada pelo banco, apontaram queda de 12,6% e de 10,9% em janeiro no varejo restrito e no ampliado, respectivamente, descontados os valores sazonais.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou de 3,9% para 3,5% sua expectativa quanto ao crescimento das vendas em diante do quadro do fim do ano e da inflação ainda elevada.
Também pesa na conta a perspectiva de alta nos juros pelo Banco Central e a indefinição quanto à retomada da auxilio emergencial em 2021.
Segundo o vice-presidente de Finanças da Getnet, Gustavo Bahia, os números reforçam as previsões de que as vendas sofreriam os efeitos do fim do auxílio emergencial, que desacelerou o consumo das famílias.
Nos últimos quatro meses do ano, o benefício de R$ 600 foi reduzido para R$ 300 mensais, o que já impactou os números do comércio.
Analistas esperam uma reação do comércio no segundo semestre, mas avaliam que, até lá, só uma retomada do auxílio poderá impulsionar o varejo, além de reformas e incentivos pontuais a setores específicos.
Lisandra Barreto, economista da XP Investimentos, acredita que o maior desafio para o comércio é este primeiro trimestre de 2021. Para ela, microreformas ensaiadas pelo governo para estimular empregos, como desburocratizar e reduzir custos de contratações seriam bem-vindas.
A XP Investimentos antecipou de agosto para maio sua previsão de alta da taxa da Selic, que está atualmente em 2%. Antes, a projeção da corretora era de uma alta para 3%. Agora, prevê 3,5%.
O Itaú Unibanco espera que os dados de janeiro venham levemente melhores, seguidos por desaceleração em fevereiro e março.
O motivo, segundo o economista do banco Luka Barbosa, é que as taxas de juros ainda baixas favorecem o crédito, compensando parte do efeito do fim do auxílio. O Itaú espra que os juros subam para 2,25% já em março.
Para o economista do Itaú, a retomada do auxílio emergencial não é o melhor caminho para estimuar a economia por causa do impacto fiscal. Ele sugere a retomada de reformas como a melhor saída:
— Em uma nova rodada do auxílio, talvez as pessoas tenham mais dinheiro em mãos. Por outro lado, a dívida pública vai subir, o que pode trazer um cenário de juros altos, e isso vai afetar negativamente o crédito.
Claudio Considera, pesquisador associado do Ibre/FGV, concorda que o governo precisa evitar o desequilíbrio das contas públicas, mas vê o auxílio emergencial como um elemento importante neste momento para a atividade econômica se o governo conseguir encontrar brechas fiscais:
— O crescimento da economia e do comércio não será espontâneo. O governo tem que dar um empurrão.
FONTE: O Globo