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Itaipu e, em 1985, com Angra I, o Brasil passava a produzir uma
energia limpa (mas controversa), entrando definitivamente na era
nuclear. Não por acaso, nessa década, começa a desabrochar no país a
consciência ecológica. Poluição do ar, contaminação de rios, descaso
com o verde, queimadas na Mata Atlântica e na Amazônia, acidentes
como o do radioativo Césio-137, que matou mais de cem pessoas,
cunhado como “O pesadelo de Goiânia”. E Chico Mendes, o líder
ambientalista assassinado em 1988, em Xapuri, no Acre.
Uma década repleta de contradições. Enquanto uns exageravam
na “Ideologia”, no balanço de Cazuza, outros respondiam que “a gen-
te somos inútil ”, de certa forma, um verdadeiro Ultraje a Rigor. E a
inflação continuava a causar estragos, ganhando até status de hiper,
com números assustadores, que desafiavam a paciência dos brasileiros,
e a inteligência e a competência de ministros, como Delfim Netto.
No Planejamento, ele pegou, nos anos 1980, a inflação com mais de
100%, sendo que em 1985, chegamos a 235,1%. E, para ver se as
coisas mudavam, se ficavam beleza, tome de criar planos: Verão, Bres-
ser e, diante dos fracassos, optou-se por trocar a moeda. O Cruzeiro
ganhou sobrenome, “Novo”, voltou ao original, travestiu-se de Cru-
zado e, depois de um outro plano, atingimos a inacreditável marca de
1.037,5%. E assim caminhamos com José Sarney. Em 1989 Fernando
A inflação Collor foi eleito, assumindo no ano seguinte.
continuava Não foi apenas a política, misturada à economia, que marcou esses
a causar dez inesquecíveis anos. Ganharam destaque também a violência, em
estragos, especial os sequestros. Na música, uns perguntavam pra que “Polícia”
ganhando como os Titãs, em resposta aos que explicitavam “Vida Bandida” e
mostravam toda a “Decadance avec elegance”, na voz de Lobão.
até o status O comportamento e a atitude também foram outros. Era proibido
de híper pagar mico. As mocinhas andavam de calça baggy, com sutiãs de om-
breiras e de tênis all star. Tudo para desfilar nos shoppings, que come-
çavam a ocupar os espaços. Os rapazes, de bermudas com velcro e tênis
bambas. Mas, todos, sob o signo do medo. Ninguém podia pisar na
bola. A tela da TV, que explodia no país com a consagração das teleno-
velas, mostrava as facetas do Brasil “Brega e chique” em meio a uma verda- Os valores das
deira “Guerra dos sexos”, num imenso “Vale tudo”, quando uma pergunta cédulas eram altos,
como o exemplo abaixo:
(“Quem matou Odete Roitman?”) mobilizou a nação, estancada na cen- 500.000,00 Cruzeiros e
sura a “Roque Santeiro”. E com cobertura nacional, ao vivo, a notícia mais 500,00 Cruzados
frequente era o aparecimento do vírus HIV, da Aids, que começava a fazer
vítimas fatais. A televisão dominava de tal forma o cenário, com transmis-
são de jogos, catástrofes (como a do naufrágio do Bateau Mouche) etc,
que era comum ouvir: “Se não deu na TV, não aconteceu”.
Para muitos, foi a década da opulência. Para outros, a década da
deprê. A cidade, quase que dividida, enchia de cores e luzes o Posto 9,
em Ipanema, com seus modismos e suas tribos, com destaque para a
sunga de crochê de Gabeira e o biquíni asa-delta. Mas tinha também
a pochete, o que na época era maneiro. E, claro, o jeans. Nos palcos,
o Teatro Besteirol repercutia. Ao som do karaokê, mostravam-se os
performáticos. Durante o dia, tudo azul, espalhavam-se os yuppies,
jovens profissionais bem-sucedidos e bem-vestidos; à noite, reina- Se não 30/31
vam os darks, com suas roupas e maquiagens negras. Dependendo deu
do grupo, a moda era azarar. O importante era ser fera. Afinal, essa na TV,
era a geração new age, do gel no cabelo, em que as diferentes tribos não
refletiam ou contestavam a moda da TV e do cinema: gatos/gatas, aconteceu
punks, darks, góticos. Muita gente mala. E foi nos 1980, em 1986,
com “Garota de Ipanema”, de Tom e Vinicius, o lançamento do CD
no Brasil, gravação de Nara Leão e Roberto Menescal.
No futebol - embora estivéssemos muito longe (inclusive ideolo-
gicamente) do careta slogan da ditadura “Brasil, ame-o ou deixe-o”,
apesar de não termos conseguido erguer nenhum caneco chocante
(de importante, apenas uma Copa América) - tivemos uma geração
de muitos craques, verdadeiros ídolos. Mas parece que deu tilt, que
a maioria deles só se interessava pelo dinheiro, holofotes e carangos.
Mesmo assim, começou um verdadeiro êxodo de jogadores. Falcão,
Cerezo, Sócrates e Zico, entre muitos outros, foram jogar no exterior.
A redenção aconteceu no automobilismo, com cinco títulos: Piquet
(3) Senna (1), na F-1; Fittipaldi (1) na Fórmula Indy.